TRATADO DE PINTURA DE 1700 | EM EXPOSIÇAO NO ESPAÇO DA BIBLIOTECA
Livro impresso a uma só cor, composto por 396 páginas, acrescidas de dez folhas inumeradas na abertura do livro, cinco folhas desdobráveis, também sem numeração, contendo oito esquemas visuais, inseridas no final, e quatro gravuras de página plena, em folhas independentes, encarceladas, precedendo cada um dos capítulos.
A obra principia pela folha de rosto, também encarcelada e sem ornamentação, contendo no verso um extracto do privilégio real que autorizou a publicação da primeira edição - de 28 de Março de 1699 -, válido por oito anos. Segue-se o prefácio, inumerado, ornamentado com tarja gravada, inserida na margem de cabeça, contendo as armas reais francesas ladeadas por duas cornucópias de onde saem flores e frutos. O texto principia por inicial ornada, inserida na coluna de texto, sendo rematado por um cesto de flores que ocupa quase meia página. Nas advertências, ainda nesta primeira parte sem numeração, o autor identifica um dos gravadores - Antoine Rivalz -, responsável pelas quatro gravuras de página plena, e faz uma breve explicação dos temas iconográficos que precedem os capítulos principais do tratado, chamando a atenção para a cruz da província do Languedoque que é representada sobre o escudo de Minerva. Esta primeira parte inumerada encerra com um extracto mais desenvolvido do privilégio real e com a errata.
O primeiro capítulo - Traite sur la Peinture. Premiere dissertacion, contenant sa definition, sa division, et sa noblesse (pp. 1-41) - é antecedido pela primeira gravura representando a Musa da Pintura, no eixo central da composição, rodeada por cinco figuras da mitologia greco-romana, a saber: Saturno (Cronos), ocupando a zona inferior, identificado pela ampulheta e pela foice; à direita, Minerva (Atena), de elmo e lança, segurando na mão da personificação da pintura; em cima, à direita, Vénus (Afrodite), deusa do amor e da beleza; à esquerda, tocando arpa, Febo (Apolo), deus da luz e da harmonia; e, na lateral esquerda, Mercúrio (Hermes), mensageiro dos deuses. A organização da primeira página de texto, que se irá repetir também nos restantes capítulos, segue uma formulação idêntica ao prefácio, inserindo na margem superior uma tarja ornada com uma flor-de-lis fitomórfica ao centro, ladeada por dois seres fantásticos, envolvidos por ramagens floridas. O texto é rematado com uma tarja gravada com a representação de uma ave (mocho?), em posição de voo, segurando um tento no bico, e pela inscrição latina MVLTA RENASCENTVR. Segue-se o
suplemento da primeira dissertação sobre la dignité de la Peinture, sur l'Histoire des peintres de l'antiquité, et des restaurateurs de cet Art (pp. 42-82).
O segundo capítulo - Traite sur la Peinture. Dissertacion seconde, Qu'est-ce que le Dessein, e des moyens de s'y avancer (pp. 83-120) -, mantendo a mesma empaginação, é acompanhado pela segunda gravura onde a Musa da Pintura, de costas para o observador, dialoga com Minerva em frente do templo daquela deusa, acompanhadas por três puttos representativos das três artes, a saber: a pintura, à direita, no topo da composição, carregando a paleta e os pincéis; a escultura e a arquitectura, em baixo, no canto inferior direito, segurando, respectivamente, o maço e a régua. À semelhança do capítulo precedente o texto termina com uma tarja contendo um símio portando três instrumentos das referidas artes: o pincel, o teque e o compasso, acrescida da seguinte inscrição: NATVRA DVCE. ARTE COMITE. O suplemento da segunda dissertação versa sobre a estrutura e as proporções do corpo humano (pp. 121-176), terminando com o cesto de flores já atrás utilizado.
A terceira gravura introduz a terceira parte do tratado - Traite sur la Peinture. Troisieme dissertacion Du Coloris, en quoy il consiste, et du choix qu'on en peut faire. (pp. 177-228) - e representa a Musa da Pintura pintando Juno (Hera), esposa de Júpiter, rainha dos deuses na mitologia romana, claramente identificada pelos pavões, a sua ave favorita; temática que se repete na inicial ornada com que principia o texto na página da direita e na tarja que encerra o capítulo, acompanhada pela inscrição LVCIS ET VMBRÆ, CONCORDIA. Esta pequena gravura (63 x 93 mm), está assinada pelo autor com letras invertidas: P. DVCHENE. Segue-se o suplemento da terceira dissertação, dedicado ao estudo da cor (pp. 229-282).
A quarta parte do tratado - Traite sur la Peinture. Dissertacion quatrie'me De la composition. (pp. 283-343) -, como o título explicita é dedicada à composição e é antecedido pela última gravura, onde a Musa, com um elegante cânone alongado é representada no eixo central da composição, encimada por Minerva, em escorço, sussurrando-lhe ao ouvido. A cena decorre num espaço interior, repleto de livros e referências às três artes. O capítulo encerra com uma vinheta onde se representa um mocho pousado sobre um conjunto de livros e a inscrição DIVINA PALLADIS ARTE. No verso da mesma folha, a meio, uma tarja com dois anjos abraçados sobre um festão de frutos preenche o espaço vazio. Segue-se um Tratado de optica - Traite d'optique, pour suplement' a la quatriême Dissertation sur la Composition (pp. 345-380) - em complemento do capítulo precedente,
ilustrado com oito gravuras reproduzidas em cinco folhas desdobráveis, integradas no final do livro. E, de permeio, o índice detalhado (pp. 381-396).
Sobre o autor do tratado, o tolosano Bernard du Puy du Grez (1639-1720), sabe-se que foi advogado do parlamento de Toulouse e um amante das Belas Artes. Em 1694 fundou uma Escola pública de desenho que, posteriormente, deu origem à Academia Real de Pintura de Toulouse. As quatro gravuras de página plena, foram desenhadas e gravadas por Antoine Rivalz, estando todas assinadas em letras invertidas, como de seguida se transcreve: A. Rivalz Tolosas in et incidebat romæ 1695 (canto inferior direito); A Rivalz in et incidit (à esquerda, sobre o segundo degrau); A. Rivalz T[olos]as et incidebat (em baixo, à direita, sobre o pedestal que suporta o vaso); e A. Rivalz Jn et incidebat (canto inferior direito, sobre a capa de um livro pousado no chão).
Antoine Rivalz, pintor e gravador, filho do pintor e arquitecto Pierre-Jean Rivalz (1625-1706), nasceu em Toulouse em 1667 e aí faleceu em 1735. A sua primeira formação foi feita no atelier do pai, com a colaboração do escultor Marc Arcis (1655-1739) e do gravador Raymond Lafage (1656-1684). Entre 1685 e 1687 frequentou a Academia Real de Pintura e escultura de Paris. Regressou a Toulouse, onde trabalhou durante algum tempo, e depois foi para Roma, tendo aí permanecido até 1703, altura em que volta definitivamente para a sua cidade Natal, assumindo o cargo de pintor camarário. As gravuras que integram este livro foram executadas em Roma, conforme se depreende da inscrição firmada na primeira gravura, datada de 1695.