Entre 2016 e 2017 decorreu no atual Campo das Cebolas, em Lisboa, uma intervenção arqueológica na sequência do projeto da reabilitação urbanística da frente ribeirinha de Lisboa que previa a construção de um parque de estacionamento nesta zona, também conhecida como Ribeira Velha. Os trabalhos aí desenvolvidos estiveram enquadrados no âmbito das medidas de minimização patrimonial necessárias a esta intervenção, por forma a acautelar a preservação patrimonial dos vestígios arqueológicos que viessem a ser afetados com a referida obra. Neste contexto, durante mais de um ano todos os trabalhos de remoção de terras foram acompanhados por uma vasta equipa de técnicos, entre eles arqueólogos de diferentes especialidades. A intensa ocupação humana de toda esta zona ribeirinha da cidade de Lisboa, outrora um eixo central da cidade, indiciada tanto pelas fontes históricas como iconográficas, fazia prever a presença de um elevado número de vestígios das mais diferentes vivências, entre elas possíveis vestígios náuticos, dada a proximidade do contexto aquático do rio Tejo. De facto, a intervenção veio a revelar um elevado manancial de vestígios arqueológicos com cronologias que iam desde o século XX até ao período romano. Foi recuperado um elevado número de artefactos, nomeadamente peças cerâmicas, mas também um elevado número de materiais orgânicos que se preservaram em meio húmido, entre eles objetos em madeira, vime ou couro. A extensa intervenção arqueológica do Campo das Cebolas alcançou ainda zonas que outrora ocupavam a área de interface entre o rio e as margens da cidade, zonas de aterro e de consolidação das margens onde foram identificados vestígios de estruturas portuárias e contextos náuticos. Estes vestígios de embarcações foram então escavados arqueologicamente na íntegra e desmontados peça a peça para depois serem removidos para tanques com água onde se mantiveram para serem posteriormente inventariados e estudados, fase em que se encontram presentemente.
Decorrida a escavação, os materiais arqueológicos recuperados tiveram de ser acondicionados para que se garantisse o seu estudo futuro. As embarcações removidas do local durante a escavação foram devidamente numeradas e acondicionadas em tanques com água para que se pudesse mais tarde proceder ao seu estudo, já fora do contexto de obra. A fase de inventário, corresponde assim ao momento em que se procede ao registo individual de cada peça, se analisam todas as suas características e estado de conservação. O trabalho tanto de arqueólogos como de conservadores-restauradores visa a recolha do maior número de informações que permitam a interpretação da ocupação humana da área que foi intervencionada. Estes dados, conjuntamente com as informações recolhidas em campo, durante a intervenção arqueológica, permitirão a elaboração de um relatório, estudos de especialidade em revistas científicas, planos de conservação preventiva de todas as peças e um plano de conservação definitiva das peças mais significativas visando depois a sua entrega à tutela e eventualmente um dia a sua exposição ao público.
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