De 10 a 20 de Novembro, o LEFFEST regressa a Lisboa e a Sintra para a sua 16ª edição. A programação foi hoje anunciada, em conferência de imprensa, no Palácio Nacional de Queluz.
A Selecção Oficial em Competição, com 11 filmes de várias cinematografias, da Europa à Ásia e África, toma o pulso ao cinema que hoje se faz pelo mundo e reúne jovens realizadores, que vão certamente marcar o cinema do séc XXI, e alguns autores consagrados, que nos trazem novas obras, surpreendentes, inovadoras, arriscadas. Os realizadores estarão presentes para conversarem com o público sobre os seus filmes. Paulo Branco, director do festival, referiu os dois filmes iranianos presentes na Selecção Oficial em Competição - Leila’s Brothers, de Saeed Rustaee (presente no Festival de Cannes), e Beyond the Wall, de Vahid Jalilvand (presente no Festival de Veneza) - «uma cinematografia muito relevante, com mais de 100 filmes por ano, e que está a conquistar dimensão internacional».
Na Selecção Oficial fora de Competição, trazemos algumas das obras mais aguardadas nesta nova temporada, filmes que estiveram nos mais importantes festivais de cinema, e que fazem parte dos momentos mais altos do cinema nos próximos meses. São dezassete títulos (a que se juntarão mais dois ou três a anunciar em breve), entre os quais destacamos o filme de abertura, Crimes of the Future, que marca o muito aguardado regresso de David Cronenberg, depois de alguns anos sem filmar - o realizador estará presente na sessão e fará uma conversa sobre o seu cinema, quando tem na calha já um novo filme; The Lost King, de Stephen Frears, que também acompanhará o filme, assim como Jerzy Skolimowski, de quem veremos EO, galardoado no Festival de Cannes com o prémio do Júri. Armageddon Time, de James Gray, é outro dos títulos sonantes, tal como White Noise, de Noah Baumbach, uma produção da Netflix, adaptação do romance homónimo de Don DeLillo (que desde a sua primeira edição teve uma presença assídua no LEFFEST, com vários momentos inolvidáveis). Destacamos ainda os mais recentes filmes de Park Chan Wook, Decision to Leave, e Broker, de Koreeda Hirokasu, filmado na Coreia com o actor de Parasitas e o Leão de Ouro de Veneza, All the Beauty and the Bloodshed, de Laura Poitras, com a artista Nan Goldin (como curiosidade, este filme “nasceu” no LEFFEST, onde Poitras e Goldin se conheceram em 2014).
O cineasta Olivier Assayas será o presidente do Júri desta edição, e a acompanhá-lo estará a cineasta do movimento L.A. Rebellion, Julie Dash, o arquitecto francês Rudy Ricciotti e a actriz portuguesa Joana Ribeiro.
O movimento L.A. Rebellion, surgido nos anos 60, e que reuniu uma série de realizadores associados à UCLA, foi um movimento inovador e revolucionário, atento às vivências da comunidade afro-americana nos EUA. O LEFFEST organiza uma retrospectiva abrangente dos filmes do movimento, uma exposição, e reúne pela primeira vez na Europa os seus nomes de proa: Charles Burnett, Billy Woodberry, Julie Dash, Ben Caldwell e Haile Gerima, que acompanharão os filmes e participarão em várias conversas, sobre este «movimento que esteve também ligado à luta pelos direitos civis», referiu Inês Branco Lopez, curadora desta retrospectiva, que salientou ainda a importância da presença destes cinco realizadores que «são muito conceituados pelo público e pelo meio artístico e cultural».
Outra das traves mestras desta edição, é o programa especial intitulado Romper as Grades, que visa, por um lado, aproximar as vivências das prisões ao nosso público, e, por outro, aproximar o cinema dos reclusos, com um conjunto de eventos únicos. Desde logo, com um debate sobre o abolicionismo com Angela Davis, figura icónica do activismo, professora e ensaísta, autora de obras como “A Liberdade é uma Luta Constante”, “As Prisões Estão Obsoletas?”, ou, o mais recente, uma obra colectiva, “Abolition. Feminis. Now.”, escrito com outras autoras, entre as quais Gina Dent, que também estará presente no debate. Além de um ciclo de filmes (com destaque para a apresentação de Fome, de Steve McQueen, pelo actor Michael Fassbender) e vários debates, de dois concertos (Dino D’Santiago e Archie Shepp), um espectáculo de dança coreografado por Olga Roriz, com um corpo de bailarinos reclusos do Estabelecimento Prisional do Linhó, este programa terá uma extensão aos EPs do Linhó e de Tires, com a projecção de filmes para os/as reclusos/as, seguidos de conversas com alguns convidados do festival. «Esta é uma forma de trazer não só o tema das prisões para o festival, mas também de levar o festival para dentro das prisões«, referiu Inês Branco Lopez, a propósito deste programa.
Numa forma de contrabalançar os temas sociais, sempre essenciais no conteúdo do LEFFEST, entre as retrospectivas, há um espaço especial dedicado a um dos actores icónicos das últimas décadas, Jim Carrey, que o director do festival, Paulo Branc, definiu como «muito mais do que um actor, Jim Carrey é um artista de enorme talento, não só na interpretação de temas satíricos, mas também como actor dramático, em filmes como Homem na Lua ou O Despertar da Mente». A retrospectiva intitula-se Jim Carrey: Mito ou Realidade?, uma questão que o próprio actor se coloca, após ter anunciado abandonar a sua carreira no cinema.
Ainda a retrospectiva Sérgio Tréfaut, realizador multi-premiado, de quem veremos a obra completa, dividida entre a ficção e o documentário, e ainda, em antestreia, o seu mais recente filme, A Noiva, que integrou a Selecção Oficial do Festival de Veneza, secção Orizzonti.
Com curadoria de Alexei Artamanov, Denis Ruzaev e Ines Branco Lopez, o ciclo temático deste ano pretende trazer para discussão os temas de culpa, da responsabilidade e da escolha. «Será que o sentimento de culpa nasce de uma traição dos nossos próprios desejos? Ou de uma lacuna entre as expectativas sociais e a nossa vontade? A falta de livre arbítrio dispensa-nos da culpa? Ou será que podemos encontrar a redenção individual e libertarmo-nos desse sentimento quando houver uma responsabilidade colectiva dentro de um contexto histórico terrível? Estas questões serão exploradas através de sete sessões, começando a viagem com Ingmar Bergman e terminando com Nobuhiko Obayashi, passando por Barbara Loden, Thomas Heise, Thomas Harlan, Robert Kramer, Camille Billops, Toshio Matsumoto e Jules Dassin.»
Acolheremos um conjunto de espectáculos, desde o teatro a concertos, passando pela dança. O teatro e a música numa apresentação inédita de John Malkovich, que nos trás The Infamous Ramirez Hoffman, a partir de textos de Roberto Bolaño; concertos de Dino D’Santiago, no Grande Auditório do Centro Cultural Olga Cadaval, e do mítico saxofonista Archie Shepp, no Teatro Tivoli BBVA; e a dança da Companhia Olga Roriz numa colaboração com um grupo de reclusos do Estabelecimento Prisional do Linhó. Os bilhetes para todos os espectáculos estarão à venda a partir de 14 de Outubro.
A inaugurar dia 13 de Novembro, no MU.SA – Museu das Artes de Sintra, as exposições L.A. Rebellion – Uma Viagem com Ben Caldwell Através da História e do Legado do Movimento e Arte Entre Ruínas: Sublimação Artística na Faixa de Gaza, com as obras da pintora e autora Malak Mattar.
Nas Sessões Especiais do LEFFEST, teremos vários momentos únicos: dois workshops com o realizador Cristi Puiu, Direcção de Actores, com a exibição de vários excertos de filmes seus; a exibição em sala da série de Olivier Assayas, Irma Vep, com sessões apresentadas pelo realizador e pela actriz Alicia Vikander; uma conversa com John Malkovich, Being John Malkovich, seguida da exibição do filme O Tempo Reencontrado, de Raúl Ruiz, assinalando o centenário da morte de Marcel Proust; uma conversa com o actor Melvil Poupaud, De Raúl Ruiz a Woody Allen, seguida da exibição do filme Combate de Amor em Sonho, de Raúl Ruiz; a exibição de Christophe… Définitivement, sobre o icónico cantor Christophe, com apresentação de Dominique Gonzalez-Foerster, co-realizadora do filme; uma conversa sobre o aqui e agora do cinema de David Cronenberg, seguida da exibição de eXistenZ; a celebração do centenário do pintor Lucian Freud, à conversa com a sua filha Bella Freud e a exibição de um documentário e materiais inéditos sobre o pintor.
Através do Serviço Educativo, uma secção paralela do LEFFEST, especialmente dedicada à comunidade escolar e ao público sénior, o festival assume a sua importância e responsabilidade na formação e desenvolvimento do público infantil e juvenil, em colaboração com a C. M. Sintra. Este programa especial de fruição, reflexão e discussão do cinema, é pensado de forma a estimular o gosto artístico e o pensamento crítico e encorajar a participação activa na comunidade.